domingo, outubro 04, 2009

"...THE QUIET SCARES ME CAUSE IT SCREAMS THE TRUTH..."
Pink, Sober.








"...I'm safe up high
nothing can touch me
but why do I feel this party is over?
no pain inside
you're my protection
so how do I feel this good sober?..."





O primeiro pensamento consciente veio em forma de interjeição: "CARALHO!". Abrir os olhos de uma vez se mostrou uma imbecilidade - o mundo gira e o maldito sol me queima a retina. Viro de bruços tentando acalmar o enjoo e fugir da luminosidade - "ARGH! AREIA!!!".
O celular no bolso e a bolsa ao alcance da mão provam, mais uma vez, a razão de quem defende a teoria de que 'Deus protege os bêbados' - "O que, DIABOS!, estou fazendo aqui???" - Nenhum flash da noite, nada em que me apoiar, nenhum rosto conhecido numa praia quase deserta, salvo por aquelas figuras peculiares ainda brincando com malabares.
Tento sentar na areia - "O que foi que eu bebi???" - e a cabeça lateja. Procuro a carteira na bolsa, e ela está intocada, assim como a cigarreira, a necessaire e as chaves da motocicleta. No celular, dezoito chamadas não atendidas - mamãe só ligou uma vez, há quarenta minutos. São quase sete da manhã e constato que dezessete chamadas foram originadas de um único número - "IDIOTA!".
O enjoo fica mais forte e ainda não lembro por que, mas já sei bem por quem vim parar aqui. Preciso de um café forte e um banho, não importa a ordem, mas antes preciso chegar em casa. Como? Preciso de um táxi - politicamente correta é o cacete, só não tenho condições de pilotar... Levantar exige um esforço sobrehumano, caminhar pela areia, tonta, é uma tortura. Pareço mil vezes mais pesada, lenta, desarrumada... Deprimente!
O hino do Flamengo toca em algum lugar, e eu demoro a fazer a conexão com meu telefone. Finalmente atendo, sem saber a quem. A voz do outro lado me dá uma ânsia de vômito maior do que a vodca barata que, com certeza e entre outras coisas, bebi. Passo alguns segundos ouvindo um blá blá blá interminável até alcançar a pista e entrar, em seguida, num táxi que providencialmente surgiu dos céus. Oriento o motorista e continuo a ouvir a ladainha monótona, repetitiva, desnecessária. Lembro que o cidadão que fala foi justamente a causa da sequência desastrosa que me leva para casa num domingo de manhã, pouco sóbria e muito puta! Sugiro que ele vá para o inferno e o choque deve tê-lo feito calar a boca. Aproveito para dizer tudo o que penso que ele deva fazer, além de calar a boca e ir pro inferno.
Durante alguns minutos o monólogo é meu: digo todas as coisas que os anos acumularam em nossa porta, todos os pequenos episódios que viraram o monstro do armário que assombra nossos sonhos, tudo aquilo a que não demos importância. Falo do nosso inferno pessoal e peço pra que ele não esteja no meu apartamento, no momento em que eu chegar. Ele tem quinze minutos e eu, bom, tenho uma vida inteira...





playlist

Ana Carolina
James Morrison
Nando Reis


LOUD: Pink - Sober.





"some relief"

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