domingo, agosto 23, 2009

"...OUR ROAD IS LONG, YOUR HOLD IS STRONG..."
Maroon 5, Secret.







"...say your goodbyes
off we go
some conversation
no contemplation
hit the road..."




Aguardava o fim do dia com um texto breve do Neruda e uma taça de syrah, nova aquisição da velha adega. Passara no Emporium, após sair da livraria em que encontrou o livro que tinha nas mãos, e não pôde resistir à empolgação do sommelier - duas belas aquisições, num mesmo dia, precisava admitir. Um início de noite morna prometia sabores interessantes e ela fitou o horizonte, distraindo-se da leitura.
Uma pontada de melancolia invadiu seu peito, uma lembrança doce que fazia contraste com o tanino da bebida. Uma tristeza súbita veio fazer companhia à boca seca, mas, ao contrário da saliva que abundava após pasar o efeito dos flavonóides, a esperança não dava sinais de voltar. Com um suspiro, concentrou-se novamente na leitura.
As palavras bem ordenadas conferiram sentido à contemplação a que se entregara. Aproveitou a vista da varanda, inspirou os aromas que a brisa trazia do mar. Degustou as palavras com a mesma vontade com que sorvia o vinho, distraiu-se com a cor forte da bebida, com o aspecto de fragilidade do cristal que a envolvia e logo havia esquecido das memórias queridas, mas distantes.
Em poucos minutos adormeceu, com o livro de poesias na mão. Sonhou um amanhã diferente, onde as lembranças fossem presente e o passado, um sonho bom.




playlist

House M.D. (1st season) Soundtrack
Brothers And Sisters (1st season) Soundtrack
Nothing Hill Soundtrack
Four Weddings And a Funeral Soundtrack







*falling asleep*

sábado, agosto 22, 2009

"...SO WHY DON'T WE GO SOMEWHERE ONLY WE KNOW?..."
Keane, Somewhere Only We Know.





"...I'm getting old and I need something to rely on
so tell me when you'll gonna let me in
I'm getting tired and I need somewhere to begin..."


Tenho fome. Uma fome incontrolável, que faz doer as entranhas. Fome de letra, e verso, fome de nota e som. Fome de melodia. Tenho fome de imagem, e texto. Fome de fotografia e quadro, de aquarela e massa. Tenho fome de batuque e de corda, de expressão, fome de emoção. Fome de dança, do clássico, de olhares e de admiração. Tenho fome do grito preso na garganta da torcida, da plástica da bandeira, do dia de sol que se põe no horizonte, no mar. Fome de estética, fome com e sem rótulo, fome de maquiagem, de interpretação. Fome de virtuosismo e fome de improviso, fome de surpresa, de vida, de beleza. Fome de contemplação. Nem sempre quem tem fome tem pressa.





playlist

Coldplay - 42
Coldplay - Clocks
Keane - Bedshapped
Keane - Somewhere Only We Know
U2 - One
U2 - Where The Streets Have No Name



*ser, só*

terça-feira, agosto 18, 2009

Efêmero...

"...IF THIS IS WHERE WE END IT UP THEN I REFUSE TO BE SO HARD ON MYSELF THIS TIME..."
James Morrison, The Only Night.








"...if everything I have is gone
then what is wrong
in spending time with you?
I'll keep you warm,
you'll hold me tight
this might be our only night..."





Dias comuns encerram-se em si mesmos. A noite joga seu pano preto e esconde o sol, as estrelas tomam posição e lá se vai. Não há o que se possa fazer. Dias comuns não suscitam expectativas, quando muito a esperança de que se acabem, rápido, pra dar chance ao dia seguinte, pra que aconteça algo de extraordinário que nos mova, que nos faça levantar.
Dias comuns nos dão preguiça, preguiça de gente, preguiça de vida, preguiça... O tédio toma conta e não se espera que a escolha do melhor lugar para uma viagem de uma hora no trem possa mudar isso. O cabelo preso no alto da cabeça deixa a coleção de tatuagens a vista de olhares cobiçosos. O fone do rádio o ouvido e uma atitude blasè completam a fotografia. O meio sorriso estampado no rosto, fruto do significado da música que tocava, já havia chamado uma atenção, em especial.
Ela continua pensando no dia sem sal enquanto contempla um rosto desconhecido, um torso nu de músculos definidos e uma enorme e bem executada tatuagem no braço, do outro lado do corredor. Apesar de não ser o tipo que a faria olhar duas vezes, ela olha. Ele olha, os olhares se cruzam e ela solta os cachos longos para esconder o rosto. Ele acha graça, encara. Ela foge, encabula. E começa o jogo! Dias comuns não trazem de presente, no fim, um sorriso sedutor e flertes certeiros. Ele continua a tentar aproximação, ela muda de posição, se reconhecem em olhares separados por ar e tensão.
Desconsertada, ela pega um chocolate na mochila, ele percebe e sorri. Poucos instantes, ele se dirige à porta, vai chegando a próxima estação. Cabeça baixa, lança um novo olhar para ela: pesar. Ela se angustia, e entristece. O trem para em frente à plataforma, ele diz um 'tchau', movendo os lábios, sem som. Ela fita o chão e a porta se abre. Ele exita, mas sai. Portas se fecham e ele parado na estação. O trem se move, ela o olha pela janela, acena, ele acena e diz que está ali todos os dias, àquela mesma hora. Ela sorri um sorriso muito particular e vira pra frente, enquanto o trem ganha velocidade. Um buraco se abre no peito e ela se sente só, como há muito não sentia. É bom e ruim, ao mesmo tempo. Se descobriu apaixonada, por poucos, mas preciosos, segundos... Não era um dia comum.




playlist

Jason Mraz - I'm Yours
Colbie Caillat - Bubbly
Jason Mraz & Colbie Caillat - Lucky
Sheryl Crow - All I Wanna Do
Jason Mraz - You And I Both



*momentos*

domingo, agosto 09, 2009

"...TIME IS SO SHORT AND I'M SURE THERE MUST BE SOMETHING MORE..."
ColdPlay, 42.





"...those who are dead are not dead
they're just living in my head
and since I fell for that spell
I am living there as well..."





Ela acordou um dia pensando no tempo. Estava frio, e estava perdido. Irremediavelmente. Não havia volta. Claro que sempre se podia remediar certas coisas, mas o que havia passado, passado. Resolveu encontrar uns amigos mais próximos, ainda que via Embratel. Sua lista de telefones ainda não estava tão desatualizada e sentiu-se feliz pelas tentativas que tiveram êxito, sentiu-se feliz pelo resto do mundo não fazer como ela e trocar o número do telefone como quem troca de vestido. De uma conversa despretensiosa surgiu a ideia do reencontro, que ficaria só na idéia se ela não estivesse em plena crise dos 30.
A vontade de saber como a mundo havia caminhado a moveu mais longe. Tinha formas de encontrar os queridos, poderiam fazê-lo. E lá se foi a lista de e-mails, a de telefone, as constantes atualizações quando identificava algo que não batia. Lá se foram horas nas redes de relacionamento, pincelando aqueles que eram parte sua, quer tivessem ou não clareza disso.
A cada novo contato aumentava a vontade. Foi descobrindo coisas novas sobre velhos conhecidos: os escritos de um, as vozes do outro, preferências musicais, implicâncias inexplicáveis, novas velhas habilidades, novidades previsíveis e outras surpreendentes. Descobriu que o menino franzino e tímido virara um homem decidido, que um espírito livre prendera-se pelo amor e que outros tantos libertaram-se do que ela, inclusive, pensava ser a vida. Eram tão novos que qualquer perda parecia distante, mesmo agora.
Ela foi dormir pensando no tempo. No quanto tinha de passado, nela mesma. Não estava mais frio, mas ainda havia a sensação de haver passado muito, mesmo com o sol brilhando lá fora. Descobriu que a melancolia não era pelo tempo, era por si.





playlist

Try Again - Keane
Bedshaped - Keane
42 - ColdPlay
Lovers In Japan - ColdPlay
The Scientist - ColdPlay
Sing - Travis
Human - The Killers



*again*

terça-feira, agosto 04, 2009

"...LIKE A GHOST INTO THE FOG..."
Counting Crows, Round Here.







"...she parks her car outside of my house
takes her clothes off
says she's close to understanding Jesus
she knows she's more than just a little misunderstood..."




Seus pés deixaram de tocar o chão. Não era sonho, mas o mundo se desfazia diante de seus olhos. A realidade se derretia, se derramava, como numa viagem de ácido barato. O tempo escorria por entre seus dedos e sentimentos intensos rolavam soltos pela sarjeta. Ela pretendia se agarrar a qualquer possibilidade de não enlouquecer, a fragmentos de sanidade, a lembranças boas...
Sua cabeça girava e pensamentos desconexos assombravam noites intermináveis. Foram semanas, dias ou horas, nunca vai saber precisar. Foram instantes de angústia, à deriva, sem norte. Foram momentos de um desespero ímpar, a sensação de quem se afoga num mar que não existe. O peito pesado de desesperança até que o céu clareou num sorriso que se abriu. Um sorriso que ela pôde usar como âncora...




playlist

Perfect Blue Buildings - Counting Crows
Round Here - Counting Crows
Color Blind - Counting Crows
Nothing Ever Hurts Like You - James Morrison
Undiscovered - James Morrison
The Pieces Don't Fit Anymore - James Morrison
Push - Matchbox 20
If You're Gone - Matcbox 20
Unwell - Matchbox 20



*a will*