sábado, junho 20, 2009

"...SHE SAID SHE'D LIKE TO MEET A BOY WHO LOOKS LIKE ELVIS..."
Counting Crows em Round Here





"...she walks along the edge
of where the ocean meets the land
just like she's walking on a wire
in the circus..."





Minutos após a aeronave tocar o solo ela tentava se conectar novamente a seu mundo, não tinha o costume de se angustiar com pousos e decolagens, como era comum a tanta gente. Sua angústia era adentrar o salão de desembarque e olhar para fora do vidro, encontrar algumas dezenas de olhares esperançosos e perceber que, novamente, tomaria um táxi até o portão de casa.
Não costumava carregar muito mais do que uma mala e alguma bagagem de mão, reflexo da vontade sempre latente de voltar - não queria deixar a cidade com a sensação de que poderia ficar tempo demais fora. Mais uma vez recorreu ao rapaz que organizava a fila do transporte, queria sair logo, o clima de boas vindas do aeroporto a deprimia. Além de tudo, estava cansada: antevia a longa viagem com os congestionamentos de sua Cidade Maravilhosa.
Entrou no automóvel de forma mecânica e sem muito entusiasmo com o condutor que tentava ser simpático perguntando pela viagem. Lembrou que viajantes solitários sempre lhe despertaram, também, uma certa compaixão e não foi de todo seca, mas na primeira oportunidade abriu um livro para ter no que se concentrar. Odiava o pobre do Focault, mais pela obrigatoriedade da leitura do que pela chatice de alguma de suas obras, mas era tudo o que podia ser feito pra manter o moço simpático calado, e seria um longo caminho.
Ela deu algumas instruções ao motorista quando chegaram ao bairro destino e agradeceu o fim da jornada. O porteiro, solícito, levou as malas à porta do apartamento, falando da satisfação de vê-la de volta, tagarelou até que tivessem vencido os tantos andares que a permitiriam ficar só com suas lembranças. Abriu a porta e se espantou com a profusão de flores em um arranjo quase maior que ela, no meio da sala de estar - sorriu aliviada: não podia ser coisa da empresa. Procurou uma pista qualquer sobre o remetente, prevendo o óbvio, e se encantou com o cartão. O 'Eu Te Amo' ainda tímido, escondido entre um monte de palavras, nada típico de quem já passara dos mil e quinhentos dias, mas marca indelével do que ela queria encontrar, embora parecesse já ter perdido as esperanças. O celular tocando dentro da bolsa era a prova de que ele controlava o tempo, sempre sabia o momento exato, de alguma forma. Suspirou e atendeu: voltar pra casa é colocar os dois pés no chão, das mais diversas maneiras.



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Ana Carolina
Fernanda Porto
Isabela Taviani
Nando Reis
Adriana Calcanhoto






*de acreditar*

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